segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Aos meus alunos

Alunos queridos, sinto muito por termos  que ter mudado nossas vidas por causa dessa greve que já dura um mês. Sei que muitos de vocês não gostariam de ter mudado de escola, mas pela necessidade de terminar o ano letivo junto com o ano civil foram obrigados a isto. Agradeço aos pais que estão conosco nesta luta por um salário digno. Com certeza, faremos tudo que for preciso para que os alunos que continuam na EMAFA não sejam prejudicados. Vou sentir falta dessas duas turmas barulhentas, mas cheias de energia e criatividade.A todos vocês dedico o trecho abaixo de um dos meus escritores preferidos.
 "Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.

Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado."
(Rubem Alves)
Lutamos por uma escola de qualidade e por isso defendemos nossos direitos!!!!!Não podemos ficar engaiolados, oprimidos sob controle dos governantes. É preciso lutar pelos nossos direitos e cumprirmos nossos deveres com dignidade. Pelas mãos do educador passam infinitas profissões. É hora portanto, de valorizá-lo!
Aos alunos transferidos: sucesso em seus novos projetos, novas escolas, novos professores e colegas de classe.
Aos que permaneceram conosco na EMAFA aguardem que voltaremos tão logo essa situação se resolva.
Carinhosamente,
Professora Jaline

Além do bastidor

Mais um conto da Marina Colasanti!!!!!!!!!
Além do bastidor

Começou com linha verde. Não sabia o que bordar, mas tinha certeza do verde, verde brilhante.
Capim. Foi isso que apareceu depois dos primeiros pontos. Um capim alto, com as pontas dobradas como se olhasse para alguma coisa.
Olha para as flores, pensou ela, e escolheu uma meada vermelha.
Assim, aos poucos, sem risco, um jardim foi aparecendo no bastidor. Obedecia às suas mãos, obedecia ao seu próprio jeito, e surgia como se no orvalho da noite se fizesse a brotação.
Toda manhã a menina corria para o bastidor, olhava, sorria, e acrescentava mais um pássaro, uma abelha, um grilo escondido atrás de uma haste.
O sol brilhava no bordado da menina.
E era tão lindo o jardim que ela começou a gostar dele mais do que de qualquer outra coisa.
Foi no dia da árvore. A árvore estava pronta, parecia não faltar nada. Mas a menina sabia que tinha chegado a hora de acrescentar os frutos. Bordou uma fruta roxa, brilhante, como ela mesma nunca tinha visto. E outra, e outra, até a árvore ficar carregada, até a árvore ficar rica, e sua boca se encher do desejo daquela fruta nunca provada.
A menina não soube como aconteceu. Quando viu, já estava a cavalo do galho mais alto da árvore, catando as frutas e limpando o caldo que lhe escorria da boca.
Na certa tinha sido pela linha, pensou na hora de voltar para casa. Olhou, a última fruta ainda não estava pronta, tocou no ponto que acabava em fio. E lá estava ela, de volta na sua casa.
Agora que já tinha aprendido o caminho, todo dia a menina descia para o bordado. Escolhia primeiro aquilo que gostaria de ver, uma borboleta, um louva-deus. Bordava com cuidado, depois descia pela linha para as costas do inseto, e voava com ele, e pousava nas flores, e ria e brincava e deitava na grama. O bordado já estava quase pronto. Pouco pano se via entre os fios coloridos. Breve, estaria terminado.
Faltava uma garça, pensou ela. E escolheu uma meada branca matizada de rosa. Teceu seus pontos com cuidado, sabendo, enquanto lançava a agulha, como seriam macias as penas e doce o bico. Depois desceu ao encontro da nova amiga.
Foi assim, de pé ao lado da garça, acariciando-lhe o pescoço, que a irmã mais velha a viu ao debruçar-se sobre o bastidor. Era só o que não estava bordado. E o risco era tão bonito, que a irmã pegou a agulha, a cesta de linhas, e começou a bordar.
Bordou os cabelos, e o vento não mexeu mais neles. Bordou a saia, e as pregas se fixaram. Bordou as mãos, para sempre paradas no pescoço da garça. Quis bordar os pés, mas estavam escondidos pela grama. Quis bordar o rosto, mas estava escondido pela sombra. Então bordou a fita dos cabelos, arrematou o ponto, e com muito cuidado cortou a linha.
(Marina Colasanti)